O desastre da Pompéia Brasileira: consequências para sempre
Quase meia noite. Desta vez, a Ceia de natal não é esperada como nos últimos anos. A vontade é de que o tempo congele, que a comida desapareça de cima da mesa e entre no organismo como em um passe de mágica, sem esforço algum. Não, não é uma ceia de alguma família preguiçosa, mas sim, é uma ceia de uma família que sente muita dor por tudo o que perdeu.
Reynaldo, 41 anos, segurança da SAMARCO na barragem construída perto da cidade de Mariana. Pai de tês filhos, Thiago de 21, Felipe de 12 e Jean, recém - nascido, de apenas 6 meses de vida. Reynaldo foi a última vítima encontrada sem vida em meio à lama e destroços após o desastre ocorrido do interior de Minas Gerais. Ele era o meu pai.
Minha mãe, Hortência, está em choque. Aliás, todos nós estamos, mas ela parece ter ido junto com o meu pai para o além. Não só ela, como também a nossa casa e pertences. Estamos sem nada. Minha mãe entrou em depressão, perdeu 10 quilos, pois não come direito desde que o corpo de meu pai foi encontrado. Meu irmão do meio chora, mas não deixa que a tristeza o pegue por completo. Ainda que ele entenda, lembre e sofra para sempre, hoje ele ainda é apenas uma criança.
Já Jean, pobrezinho, não entende nada. É um bebê que mal consegue enxergar devido ao seu tempo de vida, mas o pior é que todos os sorrisos e olhares de alegria que ele recebe das pessoas ao seu redor são falsos. Ninguém está feliz. E o pequeno Jean irá crescer cheio de perguntas a respeito de Reynaldo e sem nenhuma lembrança do pai.
Olhar para a mesa da Ceia de Natal dói, mas dói muito. Uma nostalgia, dá vontade de vomitar. Meu pai pagava com muito esforço a minha faculdade de Medicina. Não tenho toda a bolsa concedida pelo FIES. Minha mãe trabalhava como costureira, mas não recebia um bom salário e, agora, com tudo isso, duvido que ela tenha forças para continuar. Além de perder o meu herói e guerreiro, corro o risco de perder o meu sonho que nós, meu pai e eu, acreditamos e construímos: eu conseguir formar no curso de minha preferência. O nosso mundo morreu junto com Mariana, a nova Pompéia Brasileira. Como eu queria jogar fora essa Ceia de Natal!
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